Os professores do ensino básico sentem que a indisciplina na sala está a aumentar, havendo situações em que perdem metade da aula a resolver estes problemas, revela um estudo nacional, que alerta para a falta de formação nesta área
Quinta feira, 3 de Abril de 2014
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Em apenas dois meses, cerca de 1.500 docentes do 1.º ao 9.º ano responderam aos questionários do estudo sobre "Indisciplina em sala de aula no ensino básico", que está a ser desenvolvido pela Universidade do Minho (UM).
"O estudo ainda não terminou, até porque ainda se pode responder aos inquéritos, mas já é possível perceber tendências sobre a perceção que os professores têm sobre indisciplina", contou à Lusa João Lopes, docente do Instituto de Educação e Psicologia da UM e responsável pelo trabalho.
Mais de oito em cada dez professores inquiridos (84%) consideram que a indisciplina aumentou nos últimos cinco anos. Apenas 2,5% entende que a situação dentro da sala de aula está melhor e 11% acha que a situação se mantem inalterada.
Os problemas apontados "não são os mais graves", sublinha o investigador, dando como exemplos a utilização de aparelhos eletrónicos durante a aula, falar com o colega do lado, sair do lugar e comer dentro da sala, ou ter uma atitude passiva e estar desatento.
No entanto, as atitudes perturbadoras obrigam muitas vezes a interromper a aula: um em cada quatro docentes (23%) perde 10% do tempo com problemas de indisciplina; outros 314 professores disseram gastar entre 20 a 30% da aula e 6% fica com menos de metade do tempo para dar matéria. Sete professores admitiram mesmo que perdem entre 80 a 90% com o mau comportamento dos seus alunos.
"Cerca de 12% dos professores perdem mais de 40% do tempo com este problema", disse o especialista, alertando para o facto de 60% dos professores não terem tido, até hoje, qualquer tipo de formação específica para lidar com este problema.
oão Lopes sublinha que existem muitos docentes que dão aulas há décadas e nunca receberam qualquer formação e, depois, existem "casos de professores que tiveram uma formação apenas cinco horas".
Para os inquiridos, a culpa da indisciplina dentro da sala de aula é, essencialmente, dos pais (39%), das políticas educativas governamentais (37%) e dos alunos (34%).
Com menos responsabilidade na indisciplina surgem os próprios professores. No entanto, ressalva João Lopes, "os professores não se desresponsabilizam completamente" e 3% considerou mesmo que estes são os principais responsáveis pela situação dentro da sala.
Além da recolha de dados demográficos e sobre os problemas mais registados na sala de aula, o estudo tem também questionários para aferir a perceção que o professor tem sobre a sua capacidade de lidar com os problemas, assim como a capacidade dos seus colegas e da própria escola.
O estudo questionou ainda os docentes sobre a frequência com que reportam os problemas a terceiros e as consequências das situações reportadas. "Nós sabemos que os casos reportados são muito menos do que os que ocorrem na sala de aula e os punidos ainda são menos", sublinhou o investigador.
João Lopes diz que o estudo deverá em breve ser alargado ao ensino secundário e até ao ensino superior, onde acredita que se registem também cada vez mais casos de indisciplina.
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