19 de fevereiro de 2011

Escolas. Directores lançam metas até 2015, mas avisam que não vão cumpri-las

Jornal de Notícias de Portugal e do Mundo | iOnline
Governo quer que as escolas subam os resultados dos alunos. Directores dizem que os cortes orçamentais os impedem de cumprir promessa
por Kátia Catulo , Publicado em 19 de Fevereiro de 2011

Ponto de partida: um em cada dez alunos deixou a escola aos 16 anos no ano lectivo anterior.

Ponto de chegada: o governo quer reduzir 60% o abandono escolar destes estudantes em cinco anos. É só um dos objectivos que todos os agrupamentos e escolas do país assumiram ontem, que foi o prazo-limite para as direcções entregarem ao Ministério da Educação as metas que até 2015 terão de ser cumpridas para reduzir as taxas de retenções e de desistência e ainda para melhorar os resultados nos exames e nas provas de aferição nos ensinos básico e secundário [ver infografia]. O tempo começa a contar agora, mas os directores avisam desde já que com os cortes orçamentais previstos para o próximo ano lectivo boa parte dessas promessas vai ficar pelo caminho.

 
As metas para cada ciclo lectivo podem variar de ano para ano, desde que em 2015 todos os objectivos que o governo impôs para o ensino público sejam cumpridos. E é nesse ponto que as direcções escolares hesitam. "As dificuldades que se anunciam são de tal ordem que em alguns casos não vamos conseguir cumprir com os compromissos que ainda agora acabamos de assumir", avisa a subdirectora da Escola Secundária de Camões, em Lisboa, Adelina Precatado.
 

Mais que os obstáculos financeiros, são sobretudo os cortes nos recursos humanos e a redução do tempo que os professores poderão vir a ter para acompanhar os alunos que assustam os directores de escola. Não estão previstos concursos para novas entradas e o governo prevê ainda cortar cerca de 70% as horas não lectivas de que os professores dispõem para acompanhar os alunos fora da sala de aula.

Tudo isso terá reflexos nos resultados dos alunos. "Veja-se o caso da disciplina de Matemática, em que no final do ano se vão aposentar seis professores na minha escola." O suficiente para comprometer as metas, mas - alerta Adelina Precatado - a esse obstáculo é preciso acrescentar o tempo que os professores poderão perder para dar apoio a Matemática a todos os alunos, caso se confirme a redução do crédito de horas para actividades não lectivas a partir de Setembro: "É por isso que preenchemos essas metas com muita inquietação."
Na Escola Secundária do Castêlo, na Maia, professores e direcção não precisaram que ninguém lhes impusesse objectivos para conseguirem reduzir a taxa de retenção no 9.o ano de 16,4% para 0,4% em apenas três anos lectivos. Tudo por conta do crédito de horas que os docentes têm para acompanhar os adolescentes e que permitiu avançar em 2008/09 com o projecto Na Escola Pela Escola.


Aulas de Português, Matemática e Inglês contam com dois professores - um para cumprir o programa curricular e outro para seguir de perto os alunos que correm o risco de ficar para trás. "Este projecto só é possível porque conseguimos ter um professor suplementar a trabalhar em horário não lectivo", conta a directora Ana Reis.

Porém, receia perder esta vantagem em Setembro: "Queríamos implementar este plano também para o secundário, mas com o corte que o governo quer impor no crédito de horas há o perigo de interromper este processo." As metas são necessárias, reconhece a directora, mas assegurar que as escolas tenham os mecanismos para promover o sucesso escolar é a chave para atingir as metas de 2015. E não é isso que o governo tem feito, censura Ana Reis: "O mínimo que se pode pedir ao ministério é que nos dê alguma estabilidade para trabalharmos. Só que em vez disso todos os anos temos de enfrentar medidas avulsas que implicam muitas mudanças no funcionamento da nossa escola."


No agrupamento de Cinfães há "vários meses" que os objectivos já estavam traçados no plano de actividades do próximo ciclo lectivo, conta o director, Manuel Pereira. As metas, porém, tiveram de ser reajustadas à última hora: "Tínhamos ambições mais elevadas, mas perante as contingências tivemos de ser mais realistas." António Castel-Branco, director do agrupamento Ferreira de Castro (Sintra), confessa que não equacionou os cortes orçamentais quando definiu as metas para os próximos cinco anos: "É claro que isso terá reflexos, mas o nosso trabalho é fazer os possíveis para minimizar tanto quanto possível esse risco." Por agora, de nada vale "fazer futurologia". Mais tarde "logo se vê"

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