20 de julho de 2010

Ao contrário de Portugal, lá fora aposta-se no regresso a escolas mais pequenas

Na Finlândia, só três por cento dos estabelecimentos têm mais de 600 alunos
Em Nova Iorque, a taxa de sucesso entre os alunos que foram transferidos para escolas mais pequenas é superior à dos que permanecem nos velhos estabelecimentos.
in Público

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A criação de grandes agrupamentos escolares que irá começar a tomar forma em Portugal no próximo ano lectivo está em queda noutros países, que já viveram a experiência e tiveram maus resultados. Na Finlândia, a pequena dimensão é apontada como uma das marcas genéticas de um sistema de ensino que se tem distinguido pelos seus resultados de excelência.
Em Portugal, para já, os novos agrupamentos, que juntam várias escolas sob uma mesma direcção , terão uma dimensão média de 1700 alunos , indicou o secretário de Estado da Educação, João Trocado da Mata. O número limite fixado foi de três mil estudantes.

Em Nova Iorque, o mayor Michael Bloomberg tem vindo a fazer precisamente o oposto. Desde 2002 foram fechados ou estão em processo de encerramento 91 estabelecimentos. Entre estes figuram mais de 20 das grandes escolas públicas secundárias da cidade, que foram substituídas por 200 novas unidades. Nas primeiras chegavam a coabitar mais de três mil alunos. Nas novas escolas, o número máximo vai pouco além dos 400.
Em algumas das grandes escolas que fecharam portas eram menos de 40 por cento os alunos que tinham êxito nos estudos. No conjunto das escolas da cidade, esta percentagem é de 60 por cento, mas entre os estudantes que estão nas novas unidades já subiu para os 69 por cento, revela um estudo financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, divulgado no final do mês passado.


A fundação criada pelo dono da Microsoft tem sido um dos parceiros da administração do mayor Bloomberg na implementação da reforma lançada há oito anos. O estudo, desenvolvido pelo centro de investigação MDRC, abrangeu 21 mil estudantes, dos quais cerca de metade está já a frequentar as novas escolas. Uma das conclusões: entre estes, a taxa de transição ou de conclusão dos estudos é superior em sete pontos à registada entre os alunos inquiridos que frequentam outros estabelecimentos de ensino.

Uma escala mais humana


Até 2014 terão passado à história dez por cento dos estabelecimentos com piores resultados. O objectivo fixado por Bloomberg duplica a meta estabelecida pela administração de Obama, que no ano passado desafiou os estados a fecharem cinco por cento das suas escolas mais fracas. No âmbito do novo programa Race to the top, lançado para combater o insucesso escolar, aos estados com melhores estratégias e resultados serão garantidos mais fundos para a educação.

Mas o objectivo não é só fechar as escolas com milhares de alunos e substituí-las por unidades com uma dimensão mais humana - embora este enfoque na "personalização" seja considerado vital. A mudança de escala está também a ser acompanhada pela implementação de novos currículos, pela fixação de um corpo docente mais qualificado e por uma maior autonomia das escolas.


Esta aposta em escolas mais pequenas, mais bem qualificadas e com maior autonomia faz também parte das prioridades do novo primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron, o que, a ser levado por diante, constituirá uma profunda inversão da tendência registada na última década no Reino Unido. O número de escolas com mais de dois mil estudantes quase quadruplicou e cerca de 55 por cento das secundárias têm mais de 900 alunos.


Com esta dimensão, a função dos docentes passou frequentemente a ser mais a de "apagar fogos" do que a de ensinar, constata-se num documento elaborado pela organização de professores Teach First.

Aumentar permite poupar

Um estudo elaborado há uns anos pelo EPPI-Centre, de Londres, com base nas experiências dos países da OCDE, concluía que os alunos tendem a sentir-se menos motivados nas escolas maiores e que os professores se sentem menos felizes com o ambiente vivido nestas.

Questionado pelo PÚBLICO, o Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação, responsável pela elaboração dos exames, afirmou que só amanhã poderá ter uma resposta. "Estamos a monitorizar a situação. Como habitualmente procedemos, em casos similares, vamos solicitar a especialistas, que não intervieram no processo de auditoria das provas, que se pronunciem sobre a matéria", explicitou o Gave.


Num parecer enviado hoje , a APPBG afirma que no conjunto a prova está “bem construída e contextualizada com o programa da disciplina”, mas considera que continuam a subsistir questões que levantam dúvidas. A mais grave diz respeito ao item 7 do Grupo IV: “a associação de processos de produção de ATP a mecanismos de hidrólise de polissacarídeos requerida suscita-nos muitas dúvidas científicas", afirma a associação, frisando a propósito que “o meio académico e a bibliografia especializada estão em clara dissonância com a resolução proposta”.

“Apesar dos processos catabólicos serem globalmente exoenergéticos, o processo solicitado (hidrólise de polímeros) não é possível de síntese de ATP”, conclui-se. As outras questões levantadas pela associação dizem respeito aos itens 7 do Grupo I e do Grupo II, relacionados com minerais e fungos. Apoiam-se “numa abordagem periférica do programa homologado”, afirma a associação, que acrescenta que a questão sobre os fungos é mesmo “susceptível de prejudicar os alunos”, uma vez que tem por base “interacções nos ecossistemas que incluem as micorrizas”, sendo que o programa “não prevê, objectiva e explicitamente, a referências a estas, nem neste nem noutro contexto”.

Por isso, a APPP recomenda a “necessária ponderação nos critérios de classificação deste item de forma a evitar possíveis injustiças”.


Entre as cinco disciplinas com média negativa na primeira fase dos exames nacionais do secundário figurou também de novo Biologia e Geologia, que funciona como prova para os cursos de Saúde. Com a excepção de 2008, a média nesta disciplina tem-se mantido abaixo de 10 desde há cinco anos anos, quando se estrearam os exames do novo programa implementado a partir de 2004.
Nesta disciplina, a média que resultou das classificações dadas pelos professores aos alunos internos, que são aqueles que frequentam as aulas o ano inteiro, foi de 14. No exame da primeira fase ficou-se pelos 9,8.

Formação de professores


Será que “a formação inicial e contínua de professores é coerente com as exigências modernas do ensino das ciências sustentado em metodologia investigativa?”, questiona a associação, lembrando que, nos últimos anos, “o financiamento da formação contínua de docentes não tem contemplado as ciências experimentais, estando centrado nas Tecnologias de Informação e Comunicação!”.

A APPBG chama a atenção para o facto de cinco anos de provas escritas de Biologia e Geologia já constituírem “um manancial de informação digno de reflexão”. Importa saber as razões pelas quais os resultados têm sempre ficado “aquém do expectável, traduzido em médias baixas e sistemáticamente inferiores a cem pontos [numa escala de 1 a 20, abaixo de 10] ” e na discrepância entre as classificações internas finais [atribuídas pelos professores no final das aulas] e as classificações de exame.

Segundo a associação, “apesar de globalmente correcta, a estrutura dos exames também “carece de intervenções pontuais”, nomeadamente assegurando que os itens das provas tenham “uma formulação objectiva e inequivocamente enquadrada nos programas homologados da disciplina”. Por outro lado, acrescenta, “sem comprometer o rigor científico, deveria existir um conjunto de itens que permitisse aos alunos com competências básicas na disciplina alcançar a classificação de 10 valores”. Deste modo, possibilitava-se “a utilização do exame como prova de ingresso no ensino superior, ao invés de se constituir como factor de exclusão”.

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