30 de novembro de 2015

OS ALUNOS OS PAIS E OS PROFESSORES - QUO VADIS TPC's ?

SUBIR AS NOTAS, MAS COMO ? foi este o mote da conversa com a Prof Mª Lurdes Monteiro, a propósito do livro agora publicado e que desta forma alerta e dá o seu contributo útil na forma como os pais lidam com a árdua tarefa que é auxiliar e acompanhar todo um conjunto de tarefas que hoje os nossos filhos se debatem no seu dia-a-dia escolar, nomeadamente no que se refere aos históricos e sempre questionados TPCs. 
Aconteceu no passado dia 26 no Auditório Municipal, numa organização da A. Pais da Batalha em colaboração do Município e Agrupamento da Batalha, que se fizeram representar, através do Vice Presidente e Director, Professores Carlos Henriques e Luís Novais, respectivamente, com uma plateia atenta e disponível para ouvir.
Não obstante a incidência da sua intervenção se centrar do 5º ao 9º ano, derivado à sua experiência, o certo é que o tema de tão abrangente que é, se foi generalizando e centrado no aluno enquanto individuo, dotado de capacidades e especificidades para a aprendizagem, não se restringindo a um padrão comum a todos, antes observando essas mesmas particularidades dos ritmos na aquisição de competências. Mas se o tema estava direccionado para os TPC’s, que a Profª Maria Lurdes Monteiro se escusou de se pronunciar, dada a controvérsia que os mesmos têm suscitado ao longo dos anos, a oratória estava direccionada para os pais enquanto educadores para que, não se substituindo aos professores, pudessem dispor de ferramentas para um acompanhamento mais presencial ainda que indirecto, como forma de não potenciar atritos de quem já por si e na maioria das vezes, se vê numa encruzilhada de dúvidas que nem os próprios são capazes de desmistificar.

Mas se os TPC’s são um quebra cabeças para quem passa demasiado tempo em contexto de sala de aula, acossados que são com um sem número de actividades extra curriculares, nem sempre equilibrados, uma das tónicas dominantes foi a de que, às melhores notas nem sempre corresponde a formatação do individuo mais completo, porque a aprendizagem não se pode centrar em exclusivo nas matérias escolares, muitas das vezes ‘despachadas’ em nome das metas curriculares. Isto para dizer que, há mais vida para além da escola e, não menos preocupante foi o fato, constatado por todos, da imensa falta de leitura dos nossos educandos, ao ponto de serem sugestionados hábitos e práticas de leitura, acompanhados por práticas de escrita, tão arredados que andam do quotidiano escolar, mas que urge intensificar, porque sem estas duas importantes componentes, leia-se hábitos, LER e ESCREVER, a aquisição de competências acaba por se tornar um fardo na aprendizagem quotidiana, podendo levar à desmotivação. A propósito deste factor, importou também perceber e contribuir para que a auto estima, enquanto aluno aberto a todo o tipo de estímulos, esteja equilibrado, para que o crescimento da pessoa se faça em harmonia, dirimindo incidências futuras e coloquem em causa todo o conjunto de competências adquiridas, provocando um retrocesso, sempre nefasto para os jovens. 
Ainda que estejamos atentos, há muito para fazer em prol do ensino, mas as rotinas que se instalaram e que nos consomem diariamente, acabam por ter reflexos na nossa reacção em tratar temas tão sensíveis quanto o são de si a relação directa ente aluno e professor.

A este propósito, a Revista do Expresso do passado dia 21, traz um artigo intitulado TPC: ABUSO OU NECESSIDADE? que nos dá conta do enquadramento desta matéria dos estudantes em Portugal comprando-os com os países da OCDE e cuja passagem de alguns considerandos e constatações aqui se dá conta, num trabalho de Luciana Leiderfarb e Ana Serra.


A rotina instaurou-os como realidade indiscutível. O fantasma do insucesso promoveu-os a obrigação. São muitas vezes diários e repetitivos, e daí criticados e controversos, não deixando por isso de existir. Os trabalhos para casa (TPC) têm uma longa fila de defensores e de opositores, embora na prática fiquem sempre na mesma. E as crianças engolem-nos como uma vitamina ou um castigo dependendo da sua forma e conteúdo, que fica ao critério exclusivo de cada professor.
Todos os dias, após a longa jornada escolar, a maioria das crianças portuguesas leva trabalhos para casa. Fazem parte de uma rotina que por vezes apenas repete o que se fez nas aulas. Num país onde a escola ocupa demasiado tempo, que sentido faz entrar também em casa?
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) diz que os alunos portugueses de 15 anos passam quatro horas semanais a fazer trabalhos de casa— muito menos do que em Itália ou Irlanda, com cerca de oito horas, ou que em Espanha, com mais de seis. No entanto, por cá, crianças e jovens estão na escola mais de 900 horas por ano, bastante acima da média dos países da OCDE. Na Finlândia, às 650 horas anuais de aulas junta-se apenas um máximo de duas horas semanais de TPC.
A OCDE aponta os TPC como um factor de desigualdade, ao concluir que os alunos de meios socioeconómicos mais favorecidos despendem mais tempo a fazer trabalhos de casa do que os de contextos menos favorecidos, com reflexo óbvio nos resultados. 
“ocupamos o tempo livre das crianças, pondo o brincar em segundo plano e negligenciando a criatividade e o afecto em nome do ‘sucesso escolar’ e do emprego”, diz MARIA JOSÉ ARAÚJO, psicóloga da educação que muito tem dissecado o nosso sistema de ensino.
“Se uma parte da aprendizagem assenta neste tipo de trabalho, as crianças que não têm ajuda em casa ficam a perder”, concorda José Morgado, psicólogo da educação, para quem “existe uma sobre utilização dos trabalhos de casa” consideram-nos como parte da avaliação. A questão prende-se, mais uma vez, com os conteúdos: “Temos 703 metas curriculares a atingir só no 1º ciclo. E exames no final deste. Os professores estão pressionados pelo currículo e esperam que o tempo de trabalho em casa ajude a consolidar os conceitos.” Para José Morgado, não se trata simplesmente de os abolir. Mas de assegurar que o que se prescreve seja um treino de competências já adquiridas e não uma aprendizagem ‘a solo’, em que a criança depende dos pais para a realizar.

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